CONTEXTO: A despeito do reconhecimento da importância de fatores socioculturais na crítica da doença, a literatura recente sobre esse tema é escassa. OBJETIVOS: 1) traduzir e adaptar o Schedule for Assessment of Insight (SAI) para a língua portuguesa; 2) utilizar uma versão modificada deste instrumento para avaliar a crítica dos familiares em relação à esquizofrenia; 3) comparar a crítica dos pacientes com a de seus familiares. TIPO DE ESTUDO: Estudo transversal LOCAL DO ESTUDO: Ambulatório do Projeto Esquizofrenia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Projesq). MÉTODOS: 40 pacientes com diagnóstico de esquizofrenia (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - Quarta edição - DSM-IV) em tratamento ambulatorial e seus respectivos familiares foram entrevistados pela SAI e por uma versão modificada deste instrumento respectivamente. RESULTADOS: Os familiares apresentaram melhores notas que os pacientes nas avaliações parciais e total da SAI [total 13,0 e 8,75 (p < 0,001); aderência 3,9 e 3,4 (p < 0,005); reco-nhecimento da doença 5,5 e 3,5 (p < 0,001); reconhecimento dos fenômenos psicóticos 3,6 e 1,9 (p < 0,001)]. No entanto, quando as notas foram correlacionadas entre cada par paciente-familiar, a única nota parcial que teve uma correlação negativa foi o reconhecimento correto dos fenômenos psicóticos (r = -0,14), enquanto os outros tiveram correlações positivas (total r = 0,401; aderência r = 0,410; reconhecimento da doença r = 0,422). DISCUSSÃO: Não houve correlação entre as notas dos familiares e dos pacientes na habilidade de reconhecer os sintomas psicóticos como anormais. Isso pode ser entendido como uma menor influência dos fatores socioculturais nesta dimensão. A presença de características psicopatológicas e neuropsicológicas nos familiares pode ter influenciado estes resultados. O fato de os familiares não terem sido avaliados para estes déficits é uma limitação deste estudo. CONCLUSÃO: Diferentes dimensões da crítica da doença não são igualmente influenciadas pela doença e fatores socioculturais. O reconhecimento da doença parece sofrer maior influência dos fatores socioculturais que o componente reconhecimento correto dos fenômenos psicóticos.
CONTEXT: Despite the recognition of the role that sociocultural factors play in the process of acquiring insight, recent research on this issue is scarce. OBJECTIVES: 1) to translate and adapt the Schedule for Assessment of Insight (SAI) to Portuguese; 2) to use a modified version of it to evaluate family members' insight into schizophrenia; 3) to compare patients' insight with family members' insight. TYPE OF STUDY: Cross-sectional study. SETTING: Schizophrenia Project Outpatient Clinic (Projesq), Institute of Psychiatry, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. METHODS: 40 patients with schizophrenia (Diagnostic and Statistical Manual for Mental Disorders - Fourth Edition - DSM-IV) undergoing outpatient treatment and members of their respective families were interviewed using the SAI and a modified version of this instrument, respectively. RESULTS: Family members performed better than patients in the total and partial SAI scores [total: 13.0 to 8.75 (p < 0.001); adherence: 3.9 to 3.4 (p < 0.005); recognition of illness: 5.5 to 3.5 (p < 0.001); relabeling of psychotic phenomena: 3.6 to 1.9 (p < 0.001)]. However, when the scores were correlated for each patient-family member pair, the only partial score that had a negative correlation was the relabeling of psychotic phenomena (r = -0.14), while the others had positive correlations (total r = 0.401; adherence r = 0.410; recognition of illness r = 0.422). DISCUSSION: There was a lack of correlation between the scores of family members and patients regarding the ability to relabel psychotic phenomena as abnormal. This might be understood as a smaller influence of sociocultural factors in this dimension than in other dimensions. The fact that family members were not assessed for the presence of psychopathology is a limitation of this study. CONCLUSIONS: Different dimensions of insight are not equally influenced by disease and sociocultural factors. The recognition of illness is more strongly influenced by sociocultural factors than the ability to relabel psychotic phenomena as abnormal.